Podas em Frutíferas
Aspectos básicos da fisiologia e morfologia das plantas
Para a boa prática da poda, é importante conhecer alguns princípios básicos de fisiologia e morfologia das plantas. A poda irá influenciar de forma marcante, algumas funções como crescimento, absorção de água e nutrientes, entre outras. O desenvolvimento da planta ocorre pela retirada de água e sais minerais do solo através de suas raízes. Essa seiva (bruta) é transportada até as folhas onde é transformada em seiva elaborada pelo processo da fotossíntese. Outra parte da água retirada do solo é utilizada na respiração realizada nas folhas. A seiva elaborada é utilizada nos processos vitais de crescimento e frutificação. O crescimento vegetativo das plantas, de ramos e folhas é proporcional ao crescimento de suas raízes. A medida que a planta cresce, aumenta o número de ramos e folhas, e consequentemente a fotossíntese e, com isso, há maior produção de seiva elaborada. Quando a planta acumula reserva suficiente, entra em frutificação, reduzindo seu crescimento e direcionando a seiva para a formação dos frutos. Parte dessa reserva é armazenada em outros órgãos, como as raízes.
Após a colheita, a planta volta a crescer normalmente, aumentando seus ramos e folhas ao mesmo tempo em que aumenta suas raízes. Quando as reservas são novamente acumuladas, uma nova frutificação ocorre. Um dos princípios fisiológicos fundamentais é que o excesso de crescimento vegetativo reduz a quantidade de frutos e o excesso de frutos reduz a qualidade dos mesmos, ou seja, existe uma relação inversa entre vigor e produtividade.
Outros princípios fisiológicos da poda são citados na literatura:
► Os ramos geralmente apresentam dominância apical;
► O vigor dos brotos depende de sua posição e quantidade no ramo;
► Há uma relação direta entre o desenvolvimento da copa e do sistema radicular. O equilíbrio entre estes, afeta o vigor e a longevidade da planta;
► As condições de clima e solo afetam o vigor e a fertilidade das gemas;
► Ramos que recebem mais luz são mais produtivos e apresentam maior circulação de seiva;
► Há espécies que frutificam em ramos do ano e outra em ramos de um ou mais anos;
► A poda drástica retarda a frutificação, pois exige crescimento vegetativo que é antagônico às funções reprodutivas;
► Ramos que sofreram poda drástica apresentam maior vigor;
► A redução da área foliar pode debilitar a planta;
► A circulação da seiva é mais intensa em ramos retos e verticais;
► Ramos posicionados verticalmente propiciam o crescimento vegetativo, enquanto que ramos horizontais favorecem as gemas reprodutivas;
► Quando ocorre menor circulação de seiva, há maior acúmulo de reservas nos ramos, favorecendo a formação de gemas floríferas;
► As podas variam com a espécie, a finalidade e a idade da planta.
Com relação à morfologia, deve-se ter conhecimento básico da classificação das gemas quanto às suas funções. Gemas são estruturas meristemáticas fundamentais das plantas, pois dão origem a todas as estruturas da parte aérea. Para a prática de poda é interessante conhecer a classificação das gemas com relação às suas funções, que são: vegetativa, florífera e mista.
Denomina-se gema vegetativa aquela que se desenvolve e forma ramos, folhas e outras estruturas, sem formar flores. A gema florífera, quando se desenvolve, forma uma flor ou inflorescência e a gema mista é aquela que se desenvolve e foma ramos que trazem botões florais .
Os tipos de gemas das plantas, determinam se as mesmas produzirão em ramos do ano ou em ramos do ano anterior.
Época da Poda
Basicamente, a poda, pode ser executada em duas épocas: no inverno ou no verão.
► Poda de inverno ou seca
A poda de inverno ou poda em seco é recomendada para frutíferas que perdem as folhas (caducifólias), como pessegueiro, macieira, ameixeira, figueira. Mas o inverno é uma referência muito teórica e pode induzir alguns erros. Um bom momento para iniciar a poda é quando os primeiros botões florais surgirem nas pontas dos ramos, indicando que a seiva começou a circular de novo pela planta. Se a poda for feita antes, estimulará a brotação na hora errada. Se efetuada depois, forçará a brotação vegetativa, exigindo mais tarde uma nova poda.
Por ocasião da poda seca ou de inverno, deve-se considerar a localização do pomar, as condições climáticas e o perigo de geadas tardias antes da operação. A poda deve ser iniciada pelas cultivares precoces, passando as de brotação normal e finalizando pelas tardias. Em regiões sujeitas a geadas tardias, deve-se atrasar o início da poda o máximo possível, até mesmo quando as plantas já apresentaram uma considerável brotação, normalmente as de ponteiros.
Deve ser praticada após a queda das folhas. Essa orientação tem por finalidade propiciar a acumulação de substâncias de reserva no tronco e nas raízes. Quando se poda antes da queda das folhas, parte das reservas de carboidratos é eliminada, com conseqüência na produtividade futura. Por outro lado, a poda executada após a brotação reduz o vigor da planta e os ramos ficam mais sujeitos a infecção (Simão, 1998).
A poda seca, praticada durante o período de repouso, elimina os ramos que já frutificaram nas espécies em que eles não tornam a frutificar. Elimina também os ramos ladrões ou vegetativos, doentes e em excesso.
► Poda verde ou de verão
A poda verde ou de verão é realizada quando a planta está vegetando, ou seja, durante o período de vegetação, florescimento, frutificação e maturação dos frutos e destina-se a arejar a copa, melhorar a insolação, melhorar a qualidade e a coloração dos frutos, manter a forma da copa pela supressão de partes da planta e diminuir a intensidade de cortes na poda de inverno. É também executada em plantas perenifólias (com folhas permanentes) como as cítricas, abacateiro, mangueira.
A poda verde consiste em diferentes operações, tais como: desponte, desbrota, desfolha, esladroamento, incisões e anelamentos, desbaste, desnetamento.
Desponte à tem por finalidade frear o crescimento de determinados ramos em comprimento, de modo a propiciar o desenvolvimento de ramos inferiores.
Desbrota à é a supressão de brotos laterais improdutivos, ou seja brotos inúteis, que se desenvolvem à custa das reservas, em detrimento do florescimento e da frutificação.
Esladroamento à os ramos que nascem da madeira velha (do porta-enxerto, por exemplo) são denominados de ramos ladrões, e não apresentam nenhuma vantagem, pois exaurem as substâncias nutritivas da planta, perturbando seu desenvolvimento. Devem ser eliminados. Só não o são quando as plantas encontram-se em decrepitude e, neste caso particular, eles são utilizados para revigorar a árvore.
Desfolha à é a supressão das folhas com diversas finalidades: melhor iluminação e arejamento das flores ou dos frutos, eliminação de focos de doenças e pragas iniciadas na folhagem, é um recurso que melhora a coloração de frutos, assim com a eliminação do excesso de folhas, principalmente daquelas que recobrem os frutos, que necessitam de luz para adquirir coloração (pêra, maçã, ameixa e kiwi). Na videira, são as folhas próximas aos cachos as responsáveis pela qualidade dos frutos. Esta eliminação de folhas deve ser feita com bom senso, pois o abuso neste desfolhamento priva a planta de seus órgãos de elaboração de reservas de nutrição.
Incisões e anelamentos à é o descasque circular, ou seja, remoção de um anel de casca da base dos ramos novos, têm por finalidade interromper a descida e com isso a retenção da seiva elaborada próximo à sua gema ou ao seu fruto. Quando praticados no início do florescimento, aumentam a fertilidade das flores e, na formação do frutos, melhoram as suas qualidades (tamanho, coloração e sabor). Deve-se operar com moderação, pois uma série de interrupções de seiva poderá causar um enfraquecimento do vegetal.
Desbaste à é a supressão de certa quantidade de frutos de uma árvore, antes da maturação fisiológica destes, assim proporcionar melhor desenvolvimento aos frutos remanescentes. Dentre as finalidades do desbaste pode-se citar:
► Melhorar a qualidade dos frutos (tamanho, cor, sabor e sanidade);
► Evitar a quebra de ramos (superprodução);
► Regularizar a produção;
► Eliminar focos de pragas e doenças;
► Reduzir as despesas com colheita de frutos imprestáveis (defeituosos, raquíticos e doentes).
Emprega-se normalmente o desbaste para o pessegueiro, a macieira, a pereira, a goiabeira, videira (uvas de mesa), etc., por estar o tamanho de seus frutos ligado a uma maior cotação e, em alguns casos, na tentativa de eliminar a produção alternada e manter a árvore com produção anual quase idêntica. Esse processo pode ser praticado em mangueira, macieira e pereira.
O desbaste é feito à mão quando o fruto ainda se encontra em desenvolvimento inicial e não atingiu 2 cm de diâmetro.
Essa operação é altamente onerosa e cansativa, compensando, porém, os sacrifícios na sua realização.
Tipos de Podas
O ato de podar, manual ou mecanicamente consiste em operações simples que se resumem em cortes de partes das plantas como caules, ramos, folhas, raízes, flores e frutos. Porém, a finalidade com que a poda é executada irá diferenciar uma poda da outra, dando às operações diferentes nomes.
A denominação principal da poda se dá de acordo com o objetivo que se procura alcançar:
Quando a poda é realizada com o objetivo de formar a estrutura da planta, é denominada de poda de formação. Quando executada com o objetivo de obter uma frutificação regular, com frutos maiores e bem desenvolvidos, é denominada de poda de frutificação. Se o objetivo é manter as estruturas básicas e a sanidade da planta, é chamada de poda de limpeza.
► Poda de Formação - A poda de formação tem o objetivo de formar uma boa estrutura de copa, deixando-a simétrica e arejada, o que facilita os tratos culturais e garante uma maior resistência a tombamentos e quebras de galhos. É realizada nos primeiros anos após o plantio (de três a quatro anos, dependendo da espécie) e neste período deve-se priorizar o desenvolvimento vegetativo, evitando que a planta entre em produção.
► Poda de Frutificação ou Produção - Consiste na retirada do excesso de ramos produtivos para obter o equilíbrio entre vegetação e frutificação, evitando alternâncias de safras. É realizada durante a fase produtiva das plantas. Deve-se ressaltar que esta poda não aumenta a produção de frutos, mas regulariza a produção, com frutos que atendem as exigências de mercado.
► Poda de Limpeza - É realizada principalmente na fase de repouso fisiológico das plantas e após a poda de frutificação. Nesta operação são retirados o excesso de ramos, que estejam mal posicionados, fracos, excessivamente vigorosos ou contaminados.
Intensidade da Poda
A intensidade da poda depende da espécie, da idade, do número de pernadas/ramificações existentes, do sistema de condução da planta, do vigor, do hábito de vegetação.
Com relação à intensidade, a poda pode ser curta, média ou longa:
► A poda curta ou drástica consiste na quase total supressão do ramo. Pode-se praticar ainda a poda ultra curta, a qual deixa sobre o ramo de uma a duas gemas.
► A longa, também chamada leve, deixa o ramo com o máximo de comprimento (0,40 a 0,60 m).
► A poda média é um tipo intermediário entre os dois anteriores.
Dependendo da espécie frutífera, uma mesma árvore, pode receber simultaneamente os três tipos de podas, dependendo do vigor, da posição e da sanidade dos ramos.
Principais erros cometidos na prática da Poda:
Na poda de formação, os erros mais comuns são:
► Realizar a poda antecipada de ramos que nascem no tronco, impedindo seu engrossamento e expondo-o à luz;
► Formar uma copa muito alta que dificulta os tratos culturais e a colheita;
► Deixar numerosos ramos principais e permitir a produção na fase de formação da planta;
► Na poda de frutificação, o erro mais comum é deixar de realizar essa poda durante vários anos e voltar a fazê-la de forma severa em anos subsequentes, podendo resultar em alternância de safras, pelo esgotamento das reservas e pelo crescimento vegetativo intenso, levando à uma redução da produtividade;
► Outro erro é a eliminação exagerada de ramos no interior ou na base da planta, prejudicando a produção e expondo os ramos secundários à insolação intensa que causa escaldadura.
Cajá-mirim
Caju
Camapu
Cambucá
Cambuci
Carambola
Castanha-do-pará
Cereja-do-rio-grande
Chichá
Ciriguela
Coco-da-praia
Coração-de-boi
Cupuaçu
Cumaí
Esfregadinha
Feijoa
Figo-da-índia
Fruta-pão
Jenipapo
Graviola
Grumixama
Guabiroba
Grabiju
Guajeru
Ingá
Jabuticaba
Jaca
Jambo
Jambolão
Jaracatiá
Juá
Jujuba
Lichia
Mangaba
Maçala
Murici
Oiti
Pajurá
Ponhema
Pequizeiro
Pitanga
Pitomba
Pupunha
Romã
Sapota
Sapoti
Sapucaia
Tâmara
Tamarindo
Tarumã
Umbu
Uvaia
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Instrumentos utilizados para a Poda
Não existe bom podador sem boa ferramenta, isto é, apropriada, limpa, afiada e lubrificada. Não considerando os casos especiais e raros, três ferramentas são indispensáveis ao podador: tesoura de poda, serrote de podar e a decotadeira. Porém inúmeros são os instrumentos e ferramentas utilizados na execução das diferentes modalidades de poda, até o machado, a foice e a serra grande ou trançadeira podem, às vezes, entrar na relação das ferramentas do podador. Existem também instrumentos especializados como tesouras para desbaste de cachos de uva, alicate para incisão e anelamento, etc.
A tesoura de poda é a ferramenta típica do podador, servindo para os diversos tipos de poda. É empregada para corte de ramos com diâmetro de até meia polegada, além desse limite convém empregar o serrote de poda.
Execução das Podas
Como foi visto, é importante antes de empunhar qualquer instrumento de poda conhecer bem a fruteira a ser podada, sua fisiologia e seu estado nutricional e sanitário, o objetivo da exploração, a época em que deve ser realizada a poda, que tipo de poda e em que intensidade deve ser praticada, para que se tenha êxito nessa operação.
A poda de um ramo pode ser por supressão, ou seja, pela eliminação desse ramo pela base ou rebaixamento, quando apenas se apara esse ramo em comprimento.
Na supressão de galhos grossos, feita naturalmente com o serrote, o corte deve ser bem rente à base do galho e bem inclinado.
Um corte ideal e preciso, realizado de uma só vez, deve observar uma inclinação de 45 graus aproximadamente, no sentido oposto ao da gema mais próxima, o que evita o acúmulo de água, que poderia causar o apodrecimento do ramo e aparecimento de fungos. Assim cortes de espessura maior que 3,0 cm devem ser protegidos com pastas cicatrizantes à base de cobre.
Várias fruteiras requerem podas especiais (sejam de formação ou de frutificação) como por exemplo: Videira; Pessegueiro; Figueira; entre várias outras.
Frutiferas que não requerem exigências de podas:
Diversas plantas, por esse imenso Brasil, produzem frutos comestíveis e são bem conhecidas e apreciadas pelo povo. Inglez de Souza, 1986, cita 71 dessas fruteiras:
Abacaxi
Abricó-do-pará
Abricó-da-praia
Abio
Abiurama
Açaí
Acapu
Araçá
Araticum
Bacuri
Bocaiúva
Buranhém
Butiá
Cabeça-de-negro
Cabeluda
Caimito
Cajá-manga
Mangostão
Para mais informações acesse:
http://www.fruticultura.iciag.ufu.br/
http://www.estacaoexperimental.com.br/